Tal questionamento sempre me remete a uma lembrança da infância. Não sei se todos conhecem aquela florzinha que parece um floquinho de algodão, redondinha e branquinha, tão frágil que um sopro ou vento mais forte é capaz de espalhar seus pequeninos folículos pelo ar...Pois bem, ao encontrar uma dessas quando criança, apressei-me em arrancá-la para dar de presente à minha mãe e tive uma surpresa quando ela me perguntou: você sabe qual é o nome desta flor? . Não, eu não sabia, mas ela me disse: é ‘amor de homem’. E ela me contou o motivo da comparação, deixando claro que se tratava de uma brincadeira: porque amor de homem é assim, tão vulnerável que qualquer vento é capaz de levar embora. Embora o nome da flor não seja este (e sim Taraxacum officinale ou ainda conhecida como dente-de-leão), trata-se da revelação sobre como o amor sentido pelo homem é interpretado, na maioria das vezes. Considerando que nenhuma ‘brincadeira’ é inventada por acaso, certamente o comportamento masculino deixa brechas a ponto de inspirar tal comparação. Entretanto, engolir crenças generalizantes como verdade absoluta já seria perder a chance de enxergar o todo.Homens e mulheres amam de modo diferente, sim. Certos e errados, não! Vamos falar sério: a verdade é que cada um puxa a sardinha para seu lado, justificando seus comportamentos e tentando convencer a quem quer que seja de que é o ‘certo’, como se o outro, por conseqüência, fosse o ‘errado’.As mulheres dizem que os homens são insensíveis. Os homens dizem que elas são sentimentais demais. Elas argumentam que eles são frios e racionais. Eles, que elas choram e reclamam à toa.Estranha relação esta que deveria ser harmoniosa e, muitas vezes, se transforma numa guerra. Como se fossem rivais, homens e mulheres tentam defender sua bandeira, conforme apontam e criticam o comportamento do outro.Ainda que haja muito de proveitoso e estimulante nesta constante argumentação, temos de cuidar para que as diferenças não se tornem motivos para cada um perder a sua essência e suas particularidades tão necessárias nas relações.Enquanto apostarmos que um seja melhor do que o outro, estaremos seguramente perdendo uma fatia preciosa deste contexto. Não precisamos do masculino ou do feminino, precisamos dos dois. Um simplesmente sucumbiria sem a presença do outro.Portanto, não é por vitória que devemos lutar e nem por igualdade entre eles, mas por uma convivência respeitosa, assumindo as necessárias diferenças e aprendendo a interpretá-las como fundamentais no processo de amadurecimento, tanto social quanto pessoal.Um é mais objetivo e o outro é mais subjetivo. Um é mais racional e o outro é mais emocional. Um é mais calado e o outro é mais falante. Um é mais generalista e o outro é mais detalhista. E num encontro mágico, ambos podem e devem se complementar, levando para o mundo do outro uma porção do que lhe fica mais adormecido.Mas na tentativa de corresponder às regras sociais (muitas vezes rígidas e hipócritas), vamos nos moldando em comportamentos mutilados, ignorando pedaços importantes do todo, que poderiam nos proporcionar mais equilíbrio.O prejuízo tem sido grande, porque mais do que nos beneficiar com as características valiosas de cada um, temos desperdiçado energia demais travando uma luta insana e absolutamente desnecessária na tentativa de nos igualar. E quanto mais tentamos, maior tem sido o desastre causado.Que deixemos, enfim, de brigar por uma igualdade que mais nos desvaloriza do que enobrece. Que passemos a assumir nossas maravilhosas e caras diferenças e atuemos decididamente a partir de nossa essência - masculina e feminina - preciosa, sublime. E que façamos isso, sobretudo, no exercício de amar.
Rosana Braga.